BRT/Move nas avenidas Pedro II e Amazonas deve ser implantado até o fim de 2016

04/03/2015 - Estado de Minas

Depois de mudar a rotina do transporte nas regiões de Venda Nova, Pampulha e Nordeste, as próximas rotas do BRT/Move em Belo Horizonte traçam viagens para o Barreiro, Oeste e Noroeste da capital. O principal vetor de expansão do sistema implantado há um ano, que usa faixas exclusivas para circulação e pagamento de passagens antes do embarque, é conhecido como Expresso Amazonas, tendo como referência o corredor de mesmo nome, com custo estimado de R$ 149 milhões. O plano prevê dotar principalmente as avenidas Amazonas e Tereza Cristina de estrutura suficiente para o trânsito dos ônibus articulados até as duas estações de integração que já existem no Barreiro (Diamante e Barreiro) e também até Contagem, na Grande BH. Já a construção da Estação de Integração São José, no Bairro Jardim Montanhês, Noroeste da capital, vai garantir o terminal que é fudamental para o funcionamento do BRT na Avenida Pedro II, atendendo a população de 14 bairros das regiões Noroeste e Pampulha. A expectativa da BHTrans é de que os dois projetos sejam implantados até o fim do ano que vem. Ainda existe a possibilidade de implantação do BRT em toda a extensão do Anel Rodoviário, mas essa expansão depende do andamento das obras de requalificação da rodovia.

As intervenções para viabilizar tanto o Expresso Amazonas quanto a Estação São José significam investimentos em um "BRT light", com uma configuração bem mais econômica do que a implantada nas avenidas Paraná, Santos Dumont, Antônio Carlos, Pedro I e Cristiano Machado. No chamado Expresso Amazonas, a concepção básica prevê 41 quilômetros de faixas exclusivas em 10 corredores, além de reformas nas estações do Barreiro e construção de outro terminal na Região Oeste, com o intuito de operar em conjunto com uma das estações da futura Linha 2 do metrô de BH. Do custo estimado de R$ 149 milhões, R$ 141,55 milhões vêm de financiamento do governo federal, enquanto a PBH dará R$ 7,45 milhões de contrapartida. Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), a previsão de assinatura desses contratos é para o segundo semestre, quando terão início as licitações para contratação dos projetos. Os recursos serão liberados à medida que os contratos forem assinados e for ocorrendo a contratação de projetos e de obras. Não há, portanto, previsão para início das intervenções, conforme a Sudecap.

O procedimento mais adiantado na expansão do sistema se refere ao BRT na Avenida Pedro II. A via não conta com corredores separados para o transporte coletivo, como ocorre na Antônio Carlos e Cristiano Machado, embora tenha faixas exclusivas demarcadas do Centro de BH até o Anel Rodoviário, por onde já circula uma das linhas do Move. Com a construção da Estação São José, a BHTrans pretende implantar mais quatro linhas, sendo uma direta ao Centro, uma até os hospitais, outra até o Bairro Padre Eustáquio, atendendo também o Bairro Alípio de Melo, ambos na Região Noroeste, e a última até a Avenida Afonso Pena. As obras estão orçadas em R$ 59,6 milhões, sendo R$ 22 milhões da PBH e o restante já autorizado pelo governo federal. Segundo Sudecap, o projeto executivo está em fase final de conclusão e a previsão para publicar o edital das obras é até 30 de junho.

Com a expansão do BRT/Move, a BHTrans informa que mais linhas terão função tronco-alimentadoras, que consiste em ligações com terminais de transbordo e conexão, prometendo interação entre o Centro e as estações, ampliação de passageiros atendidos e maior oferta de horários, com a racionalização do sistema. De acordo com a empresa, essa lógica começou a ser implantada em 1997, com as estações BHBus Diamante, Barreiro e Vilarinho, que concentravam 25% das linhas circulantes na capital mineira. Com essa primeira etapa de implantação do BRT/Move, o percentual dobrou, chegando a 50%. A expectativa da BHTrans é atingir até 70% com a expansão prevista até o ano que vem. "Não é possível chegar a 100%, porque há funções importantes preenchidas por ônibus de linhas diametrais (que ligam um ou mais bairros, passando pelo Centro e com dois pontos finais distintos) e os circulares (percurso baseado na abrangência da Avenida do Contorno)", informou o diretor de Transporte Público da empresa municipal, Daniel Marx.

Entrevista

'Atendemos ao propósito de rapidez e conforto'

Em entrevista ao Estado de Minas, o diretor de Transporte Público da BHTrans, Daniel Marx, afirma que ainda faltam ajustes para que o BRT/Move reduza o tempo de espera nas estações e supere o vandalismo, mas considera que a proposta inicial de racionalização, redução de tempo de viagem e ganho em conforto tenha sido atingida depois de um ano de funcionamento.

O BRT/Move pode ser considerado um sucesso?

Concluímos e atendemos o propósito de mais rapidez e conforto, que eram aspectos de que a maioria dos usuários reclamavam. Com faixas exclusivas, embarques mais rápidos, ar-condicionado e outros fatores, trouxemos melhorias para a maioria. Mas outras estão sendo implementadas, pois um sistema de 500 mil usuários por dia sempre requer adequações. Precisamos de adequar as estações contra o vandalismo e os rotores das estações centrais precisaram ser redimensionados. Criamos uma linha não prevista, como a 85 por necessidade dos passageiros. Também reduzimos intervalos em linhas que se tornaram muito carregadas, como a 50.

O sistema melhorou o trânsito da cidade?

Sim. Chegamos a remover até 95% das linhas de ônibus em certos trechos da Avenida Antônio Carlos, e isso melhorou a fluidez. Onde o tráfego é misto (fora dos corredores do Move), a velocidade média do tráfego em horário de pico subiu de 6 a 7 km/h para acima de 15 km/h, de forma geral.

Mas muita gente ainda reclama da demora das linhas alimentadoras nas estações de integração. Isso será sanado?

Já fizemos alterações que melhoraram essa espera. Alteramos o percurso, principalmente na aproximação das estações. Havia linhas alimentadoras que chegavam à porta do terminal e levavam até 10 minutos para entrar, fazendo muita gente descer antes. Fizemos mudanças de engenharia para um acesso mais direto à estação. Sobre a demora, aumentamos o número de ônibus nas linhas carregadas e vamos instalar painéis de informações. Pesquisas mostram que muitas pessoas ficam 10 minutos esperando, mas como não têm noção de horário e de tempo para chegada do ônibus, acham que gastaram até 30 minutos.

E quanto à depredação, ao mau funcionamento de portas e à falta de equipamentos de incêndio?

Os ônibus das estações centrais já contam com um sistema de acionamento que permite que as portas sejam abertas quando o veículo para. Os botões de acionamento de emergência eram usados para invasões e acesso irregular. Agora, ficam acionados apenas enquanto pressionandos. Essas mudanças devem terminar em 70 dias. A falta dos extintores e outros problemas com o vandalismo demandam mais tempo. Estamos revendo a segurança. Vamos contratar vigilantes para as estações mais atacadas, sobretudo para o período noturno.

Maior terminal do BRT da capital abriga milhares de histórias que se cruzam a cada dia

Durante um dia e uma noite, o EM registrou a diversidade na Estação São Gabriel

O movimento dos ônibus atesta o ponto de chegadas e partidas. Mas não é só. Estações do BRT/Move, como a São Gabriel, mais do que uma estrutura de transporte público abrigam um mundo de histórias. No bairro da Região Nordeste de Belo Horizonte, o maior terminal do sistema é vivo e, ao longo de 24 horas, ganha diferentes feições, com os quase 70 mil passageiros que circulam por lá diariamente. O Estado de Minas acompanhou esse vai e vem: um dia e uma noite na estação que desde 8 de março é ponto obrigatório para quem usa coletivos na capital. Como bem escreveu Milton Nascimento em Encontros e Despedidas, a plataforma é a vida daquele lugar.

O dia começa cedo para quem às 6h já está na estação – de onde partem a cada dia 37 linhas municipais – pronto para ir ao trabalho, à escola ou a outro compromisso nas primeiras horas. Nas catracas, nas escadas, nas plataformas, nos ônibus que partem, muita gente com o passo apressado se ajeita. Mas, em meio ao frenesi, há espaço para o afeto. As amigas Daniele Sarah Oliveira e Isabela Maria de Matos, ambas de 15 anos, não se encontravam desde dezembro do ano passado. Ao passar pela catraca, se abraçam para matar a saudade. Na mochila, o material escolar e no fone de ouvido as músicas prediletas. As duas são vizinhos de bairro, mas todos os dias pegam o BRT/Move para estudar. "Meu bairro não tem escola de ensino médio", conta Daniele. Mesmo acordando bem cedo, a jovem encontra tempo para se maquiar e garante que passar o delineador, o pó, sombra e batom não leva mais que 10 minutos.

Com tantos rostos diferentes há quem se destaque, como o aposentado João Capistrano Rosa, de 75. Na bolsa debaixo do braço, leva o amigo fiel de todas as horas. Billy não se assusta com tanta gente que passa – vestido de verde-amarelo, o pinscher transportado a tiracolo nem late. Talvez por isso embarque sem problemas. Morador do Bairro Nazaré, usa o Move para ir ao Centro, onde vende laranjas. Com seu fiel escudeiro, já é conhecido de outros passageiros. Antes de seguir viagem, João costuma protestar diante dos que não embarcam mesmo quando ainda há espaço no coletivo. "O ônibus vai vazio. É um monte de menino novo, que não dá lugar nem se a pessoa tiver 200 anos. Ninguém pode obrigar ninguém a entrar, mas o ônibus não é para 45 pessoas em pé e 45 sentadas? Falta uma mente boa. São só 15 minutos, é direto. A pessoa segura e já apeou."

Mas alguns têm mais dificuldade entre o subir e o "apear". Entre os milhares de passageiros, há quem dependa dos elevadores para chegar às plataformas, como a aposentada Maria Rita Santos Vieira, de 56, que anda com auxílio de muletas. Preço das duas próteses no fêmur, depois de sessões de radioterapia e de uma osteoporose. Com ajuda do marido Sílvio Antônio Vieira, de 59, ela passa pela estação lembrando quando tudo começou: o romance iniciado quando a mãe dela a deixou ir à missa em Rubim, no Vale do Jequitinhonha. "Nós nos conhecemos em uma pracinha, depois da igreja. Foi complicado, pois minha mãe não aceitava." Ela tinha 12 anos e ele, 14. Dificuldades superadas, o destino os levou até São Gabriel. O destino e a promessa de que, da adolescência em diante, iriam sustentar um ao outro vida afora.

Como os deles, os milhares de rostos, tipos e histórias fazem da estação meio de locomoção e ponto de diversidade. Se de manhã as pessoas estão apressadas, à noite o tempo parece passar mais devagar. Embora o movimento não cesse, o frenesi se reduz. É o tempo de gente como o pintor Elenilson de Oliveira Novais, de 21. Terno cinza abotoado, camisa branca e gravata vermelha compõem o visual para visitar pela primeira vez a igreja no Bairro Paulo VI. Como mora em Contagem atravessou a capital para ir à Estação São Gabriel, de onde seguiria para seu destino.

EXPECTATIVAS E DECEPÇÕES

Principalmente a essa hora, na falta de lojas ou lanchonetes, vendedores ambulantes são a salvação para quem tem fome. Desde que chegou, às 20h, Jobi Ferreira do Nascimento contabilizou a venda de 60 pacotes de salgadinhos. Diz não se preocupar com a fiscalização. "Tenho contas para pagar. Hoje vendi tudo, graças a Deus", afirma. Já são quase 22h quando chega a atendente Cristiane Nascimento, de 29. É um dia diferente. O uniforme de trabalho está guardado na bolsa. Sapato de salto, blusa de seda estampada e uma briga com o marido – tudo para assistir ao filme 50 Tons de Cinza com as amigas. De volta da sessão, não parece certa de que a empreitada valeu a pena. "Esperava mais. Como li os três livros, queria mais detalhes. O filme só traz a história de um dos livros." Resta esperar pelo ônibus.

Mas nem só de idas e vindas, expectativas e decepções se faz o cotidiano do maior terminal do BRT. No fim do dia, um susto: uma funcionária da Transfácil, de 23 anos, é socorrida às pressas pelos atendentes do Samu. Diante da suspeita de um AVC, o serviço foi solicitado pela Guarda Municipal, passados mais de 30 minutos dos primeiros sintomas. Tanto seguranças como guardas se queixam de que o supervisor da estação postergou o pedido de ajuda. Depois de um primeiro atendimento, a jovem caminha até a ambulância e segue até o hospital. Mais uma partida, esta fora da rotina, que como tantas outras deixa nos que ficaram a curiosidade sobre tantos destinos que partem de São Gabriel.

SONHOS

Barulho de ônibus chegando e sando compõe a sonoridade da estação. É preciso tempo para apurar os ouvidos para sons mais sutis, como o dos passos. Mais tempo ainda para perceber o que vai pela mente de quem passa pela estação ou trabalha por lá.

Enquanto libera a passagem para quem vai aos sanitários, o pensamento da controladora de acesso Maria Araujo, de 47, viaja longe. Mais precisamente até os dois filhos. Liniquer, de 28, é gerente de restaurante em Guarapari, no Espírito Santo. Wadson, de 24, joga de zagueiro no Grêmio de Anápolis, em Goiás. "Um empresário o tirou do caminho. Levou o Wadson duas vezes para Alemanha e uma para a Polônia. Ele jogava na base do Cruzeiro. Lá fora, não conseguiu negociar o passe", diz, sobre o mais novo. Divorciada há 18 anos, ela se orgulha de ter educado os meninos com seu trabalho. "Não sonho com muito, sonho com o necessário. Se fosse preciso fazer tudo de novo, eu faria." Nas 12 horas que passa sentada em frente aos banheiros da estação, ela não tira o sorriso do rosto. É atenciosa com todos e confessa que facilita a vida de quem está apertado diante da fila para comprar ficha.

Confissões, aliás, estão espalhadas pela estação, mas só pra quem tem tempo e ouvidos para ouvir. No mezanino, Isaac Victor de Oliveira, de 15, e Arthur Henrique Maciel, de 13, suspiram e falam, em tom de segredo, o que os corações adolescentes mal conseguem esconder. O motivo da alegria foi a visão de Cindy Ellen, de 15. Embora morem no mesmo bairro, eles só se encontram na Estação São Gabriel. Quando ela volta do colégio, eles estão indo. "Todo dia a gente espera. Ela é linda demais", diz Arthur. A dupla ganha o dia quando passa pela garota pelas escadas e recebe um "Oi".

Também sonhadora, a estudante Jeane Martins, de 17, pensa em trocar as plataformas da estação pelas passarelas. De fato, ela chama a atenção pelo porte e pelas roupas. Ela revela que já fez testes em uma agência de modelos, foi aprovada, mas não teve dinheiro para o sonho. "O custo era muito alto e, na época, eu trabalhava como menor aprendiz. Não tinha como pagar." Por enquanto, desfila seu 1,71 metro, esguia, para pegar o Move e encontrar o namorado, Joaquim Gabriel, de 18. Mais um destino dos quase 70 mil que seguem seu caminho graças às encruzilhadas da maior estação do BRT da capital.