BRT é o sistema mais barato

09/03/2015 - O Tempo - BH

No fim do mês, andar de Move – nome dado ao BRT da capital – pode sair até 145% mais barato para o belo-horizontino. Ao usar três tipos diferentes de transporte – o sistema, carro e metrô – no mesmo percurso, entre o bairro Conjunto Paulo VI, na região Nordeste da cidade, e o centro, com o respectivo retorno, a reportagem de O TEMPO verificou que o Move foi o que teve o menor custo – R$ 6,20, já considerando o valor da linha alimentadora, o que resulta em R$ 136,40 a cada 22 dias úteis. Fazer o trajeto de carro custou R$ 15,18, R$ 333,96 por mês. O gasto mensal com metrô, que custa R$ 8 por dia, seria de R$ 176.

Mesmo com a necessidade de baldeação, os usuários do Move não tiveram o orçamento alterado. Como o sistema foi desmembrado até as estações de integração, caiu o valor das antigas linhas – as atuais alimentadoras. "O preço é o mesmo de antes. Pago R$ 3,10 e agora posso acessar outros lugares", disse a monitora de informática Ana Bárbara de Oliveira, 24.

Embora seja mais barata que o automóvel, a opção do metrô onera mais o usuário que o Move, porque não há desconto para a integração. "O trajeto (de metrô e de Move) é praticamente o mesmo. Mas, com a integração, prefiro ir de Move, que é mais barato. De metrô eu pago a alimentadora mais o bilhete integral", avalia a auxiliar administrativa Edvânia Silveira, 27.

Para estimar o custo do transporte com carro, a reportagem levou em consideração a potência do motor, que era 1.8, e o combustível usado, o álcool. A média total de consumo foi de 5 km/litro.

Velocidades. De Move e de metrô, o tempo de viagem foi o mesmo – uma hora e 21 minutos. No entanto, o Move foi o que apresentou a maior média de velocidade. A diferença entre os dois meios de transporte está na distância percorrida – enquanto o Move anda 9,5 km em 22 minutos, o metrô percorreu 6,5 km em 20 minutos, uma diferença de 6 km/h.

Mesmo com o ganho de tempo pela pista exclusiva, o uso de linhas alimentadoras e os gargalos no centro deixam o trajeto cansativo para boa parte dos usuários. Antes do Move, as pessoas embarcavam em um coletivo em seu bairro e seguiam direto até o centro. Hoje, é necessário trocar de veículo, demandando tempo e gerando desgaste. Além disso, ao chegarem ao centro, algumas pessoas ainda precisam terminar seus percursos a pé ou usando nova linha.

É o caso da cozinheira Ana Maria Pereira Souza, 31, que usa o Move, mas precisa completar o trajeto com um ônibus até o bairro Santo Antônio, na região Centro-Sul, onde trabalha. "A gente realmente ganha tempo com a faixa exclusiva. Mas no centro tem que pegar outro ônibus, e, no fim da viagem, a vantagem é pequena"

Tempo gasto até a estação de integração é desafio do Move

Um ano após a implantação do Move em Belo Horizonte, o uso do sistema ainda não é vantajoso o suficiente para convencer o motorista a deixar o carro na garagem. Andar de veículo particular na capital acaba sendo mais rápido nos deslocamentos até o centro, mesmo com velocidade média inferior à do transporte coletivo nos principais corredores. No segundo dia da série sobre o aniversário do Move, a reportagem de O TEMPO percorreu um mesmo trajeto usando três modais metrô, carro e Move para comparar velocidade, conforto e custo e constatou que, depois dos automóveis, o novo sistema tornou-se o preferido dos usuários.

Os trajetos feitos por transporte público começaram com a linha alimentadora 815 (Estação São Gabriel/Conjunto Paulo VI) e se distinguiram ao chegar à estação São Gabriel, na região Nordeste uma equipe seguiu até o centro na linha do Move 83D, e a outra, pelo metrô.

O percurso teve início às 7h19 da última segunda-feira, no bairro Conjunto Paulo VI, na região Nordeste. As três equipes partiram ao mesmo tempo, com destino à praça Sete, no centro. Os deslocamentos com o Move e o metrô levaram o mesmo tempo: uma hora e 21 minutos, enquanto de carro a viagem durou 58 minutos.

"Após a inauguração do Move, eu uso o metrô apenas quando vou para locais fora do centro. O Move faz em 20 minutos um trajeto que dura cerca de 45 minutos usando o metrô", revela o vendedor Keona Douglas, 24.

De fato, o deslocamento com o Move é ágil, principalmente no corredor exclusivo. A reportagem gastou 22 minutos entre o bairro São Gabriel e a avenida Paraná. Além disso, no caso da linha 83D, os usuários não precisavam esperar muito para embarcar. No entanto, mesmo com a ampla oferta de veículos, os ônibus da linha ainda trafegam cheios no horário de pico, e usuários enfrentam tumultos no embarque.

A situação foi vivenciada pela reportagem, que, após enfrentar longa fila na compra dos bilhetes, se deparou com grande aglomeração de pessoas tentando embarcar. O tumulto foi tanto que a equipe acabou empurrada para dentro do veículo.

Na balança, o resultado divide a opinião dos usuários, que estão satisfeitos com o ganho de tempo, mas reclamam das dificuldades durante a baldeação. "O sistema é positivo na rapidez. Mas negativo porque há tumulto na hora de entrar no Move. É mais uma questão de educação das pessoas", diz a doméstica Gleice Mara Bernardes, 34. Antes da implantação do sistema, ela gastava duas horas do bairro Capitão Eduardo, na região Nordeste, até o centro, e agora faz o trajeto em uma hora e meia. "Mesmo tendo que mudar de ônibus, ganho tempo", comemora.

Desafio. A linha alimentadora, assim como para quem usa o metrô, continua sendo o principal desafio do Move. Quase metade do tempo gasto nas duas viagens de transporte coletivo feitas pela reportagem foi no trajeto até a estação de integração.

Porém, com a rapidez do Move, muitos usuários parecem ter abandonado o metrô. A maioria dos passageiros do sistema vai para outras partes da cidade, e não mais para o centro. Ainda assim, o trajeto mais cheio vivenciado pela equipe que trafegou sobre trilhos foi da estação José Cândido da Silveira à estação Central. Não houve tumulto no embarque, e o único desconforto foi a lotação dos vagões.

Já no trajeto de carro, conforto e rapidez são diferenciais. O usuário não perde tempo em longas filas e baldeações, porém o congestionamento é inevitável nos principais corredores. A imprudência de alguns motoristas, aliada ao tráfego intenso, causa estresse em condutores. O ziguezague dos motoqueiros entre os automóveis incomoda e aumenta a tensão para quem está dentro dos veículos.

Ainda assim, o tempo gasto pela reportagem no carro foi quase 30% menor em relação ao dispensado no transporte coletivo.

De Move

Usando linha alimentadora em ônibus convencional e Move, a reportagem levou uma hora e 21 minutos nos 21,5 km do trajeto. Na primeira etapa, foram 37 minutos na linha alimentadora 815 (Estação São Gabriel/Conjunto Paulo VI), à velocidade média de 14,5 km/h. Do desembarque até o embarque no Move, foram nove minutos, três deles na fila para adquirir o bilhete de integração. Já o trajeto na linha 83D (Estação São Gabriel/centro-Direta), passando pelo corredor exclusivo da avenida Cristiano Machado e pela avenida Paraná, demandou 22 minutos, à velocidade média de 25,9 km/h. Foram mais 13 minutos até a praça Sete. Em abril de 2014, O TEMPO gastou uma hora e 11 minutos para fazer o mesmo percurso.

De metrô

O trajeto percorrido de metrô e linha alimentadora foi o mais demorado relativamente, já que a equipe gastou uma hora e 21 minutos, mesmo tempo que o Move demandou, mas percorreu 16,5 km, 5 km a menos que o BRT.Entre o bairro Conjunto Paulo VI e a estação São Gabriel, o percurso foi feito por ônibus convencional (linha 815) e durou 37 minutos, com velocidade média de 14,5 km/h. Foram gastos 12 minutos entre desembarque e entrada no vagão do metrô, na estação São Gabriel. Para chegar ao terminal Central, o metrô demorou 20 minutos, o que resulta em velocidade média de 19,2 km/h. No centro, foi preciso caminhar por cerca de 12 minutos até a praça Sete, à velocidade de 4,5 km/h.

De carro

O mesmo itinerário realizado em um Fiat Idea demorou 58 minutos. A velocidade média durante toda a viagem foi de 16,5 km/h. Em alguns pontos do trajeto, o carro chegou a ficar parado, como próximo à estação São Gabriel. Na altura do bairro Cidade Nova, na região Nordeste, o tráfego ficou intenso. Mesmo com o semáforo verde, o automóvel demorou a sair do lugar. Nos momentos de maiores congestionamentos, a velocidade média variou entre 8 km/h e 10 km/h. Na chegada ao centro, no cruzamento entre a rua São Paulo e a rua dos Caetés, a situação se agravou com a presença de ônibus trafegando na faixa da esquerda. O restante do percurso até a praça Sete transcorreu sem retenções.