Faltam perspectivas para o transporte de massa na capital

09/12/2014 - Hoje em Dia

A frota de Belo Horizonte deve ultrapassar os 2,1 milhões de veículos em 2020, seguindo uma projeção de crescimento que leva em conta o aumento registrado nos últimos anos. Serão 500 mil veículos a mais que os atuais 1,6 milhão que circulam na capital mineira. Para evitar um cenário de colapso na mobilidade urbana, apenas grandes obras de ampliação do transporte público são vistas como solução para os próximos anos. Um prognóstico otimista diante do atual andamento dos projetos considerados primordiais para mudar a realidade de BH.
 
Entre as obras que devem impactar no trânsito local e regional, a mais importante delas é a ampliação do metrô. Esperada há décadas, a intervenção ainda não tem prazo certo para, efetivamente, sair do papel. Os projetos básicos das linhas 1 (Vilarinho / Novo Eldorado), Linha 2 (Barreiro / Nova Suíça) e Linha 3 (Lagoinha / Savassi) já estão prontos. Entretanto, as licitações das obras ainda estão emperradas.
 
No que se refere às linhas 1 e 2, isso depende da realização do convênio para transferência da administração e dos bens patrimoniais do Metrô de Belo Horizonte da CBTU para a Metrominas. O pedido foi encaminhado pelo governo de Minas em 2013, mas não há retorno até o momento, segundo informações da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop). 
 
Com relação à linha 3, a Caixa Econômica Federal prossegue realizando análise quantitativa e qualitativa do projeto apresentado. Isso depois de ele ter sido devolvido duas vezes por falta de detalhes referentes a cronograma e orçamento. Após a Caixa encerrar o processo, é preciso que a União assine um convênio de liberação dos recursos prometidos.
 
Por causa desses e de outros imbróglios, especialistas na área são muito pessimistas com relação à mobilidade urbana em BH nos próximos anos. "Infelizmente, na minha visão, o trânsito só vai se agravar em cinco anos. Os investimentos são muito pífios, há muita promessa e pouco investimento. A frota só vai aumentar e o sistema de transporte público não deve ter melhoras substanciais", avalia o engenheiro e coordenador das disciplinas de transporte da Fumec, Márcio Aguiar.
 
Ao contrário do metrô, mas de proporção bem menor, a implantação do sistema BRT/Move na avenida Amazonas deve ficar pronta nos próximos anos. Ainda em fase de concepção, o projeto, que abrange 9 km da via (entre a avenida Paraná e o Anel Rodoviário), deve ser licitado em 2015. 
 
A previsão da BHTrans é a de que as obras comecem ainda no fim do ano que vem ou no início de 2016. "Na verdade, será um aperfeiçoamento do que já existe: uma faixa exclusiva para ônibus. Isso não vai diminuir o número de carros nas ruas. É um paliativo, não uma solução", afirma Aguiar.
 
Prometido para este ano, o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), capaz de agilizar e otimizar o monitoramento do tráfego em BH, também ficou para o ano que vem. A estrutura que vai funcionar na Gameleira, região Oeste de BH, deveria ter sido inaugurada para a Copa do Mundo, mas agora passa por nova licitação. E ainda não há prazo para reinício das obras abandonadas pela metade.
 
Pensado para facilitar o trabalho de diversos órgãos e corporações, o local, que demandou investimento de R$ 2 milhões e de onde é possível monitorar 1.300 câmeras da capital e região metropolitana, não trabalha de forma contínua. 
 
"A saída para melhorar o trânsito de BH é simples: executar os projetos que já existem. Fazer isso acontecer é o grande desafio", observa o especialista. 
 
Trem Metropolitano também está emperrado
 
Pensado para facilitar o transporte entre as cidades da região metropolitana e, assim, desafogar o fluxo convergente na capital, o Trem Metropolitano ainda está longe de fazer parte do dia a dia dos passageiros. Inicialmente previsto para chegar a cidades mais distantes, como Ouro Preto e Divinópolis, o projeto teve que ser reduzido por questões orçamentárias. E, mesmo depois dos cortes, o único trecho que está sendo licitado tem apenas 12 km de um total de quase 180 km.
 
Não existe sequer um cronograma prevendo outras licitações ou obras já que o projeto está passando novamente por ajustes, de acordo com a assessoria de imprensa da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte. "Tudo depende de recursos e da continuidade de implementação do projeto. É difícil dizer isso hoje porque há uma mudança governamental em curso e não sei quais serão as prioridades do próximo governo", afirma o diretor-geral da Agência, Saulo Carvalho.
 
O que se pode afirmar com certeza é que, independentemente das mudanças, não será possível embarcar em nenhum trecho do trem em menos de três anos. "Hoje no Brasil só para comprar o trilho e os trens você demora dois anos. Entre fazer projeto e começar a obra, estamos falando de, no mínimo, três anos", explica Carvalho.
 
Apesar de tantas idas e vindas, o plano de construção de um trem que corte tantas cidades na RMBH é considerado muito atrativo sob o ponto de vista de uma Parceria Público-Privada (PPP). Orçado em cerca de R$ 6 bilhões, o projeto prevê uma concessão de 25 anos.