Disputa judicial atrasa construção da nova rodoviária de Belo Horizonte

19/11/2014 - Veja BH


A casa do mecânico Jorge Rodrigues Gomes de Souza nunca fica vazia. Desde que foi anunciada, em 2012, a desapropriação da Vila Minaslândia, no bairro São Gabriel, para a construção da nova rodoviária de Belo Horizonte, ele cuida para que tenha sempre alguém no imóvel, construído por seu pai há quase sessenta anos. Souza mora ali com outras seis pessoas: a mulher, dois filhos, uma nora e dois netos. Precisamos ficar alerta para atender os peritos e oficiais de Justiça que querem nos tirar daqui, diz. A prefeitura ofereceu uma indenização de 56000 reais pela residência, que, segundo Souza, tem 600 metros quadrados. O mecânico não aceitou. Também não concordou com a troca por um apartamento de três quartos no bairro Belmonte. Os Souza são uma das três famílias que resistem à desapropriação e brigam com a prefeitura na Justiça para definir o destino de suas casas - e, consequentemente, do novo terminal rodoviário.

A previsão da administração municipal era concluir a construção para a Copa do Mundo. Quatro meses depois do fim do Mundial de futebol, porém, o cenário por lá não lembra em nada um canteiro de obras. No terreno onde cerca de 270 imóveis já foram demolidos, as três residências ainda de pé estão cercadas por mato e lixo. Os moradores convivem com cães e gatos deixados para trás pelos que residiam lá anteriormente e com os usuários de drogas que ocuparam o lugar. Só não saio porque não tenho para onde ir, afirma a dona de casa Marlene dos Santos Ferreira. A prefeitura ofereceu 90000 reais pelo imóvel, erguido por seus sogros há 39 anos, mas Marlene diz que corretores particulares o avaliaram em 315000 reais. Com o que querem pagar, não dá para comprar nada em Belo Horizonte.

A Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) alega que essas três casas estão localizadas em área irregular e que os ocupantes não têm a posse legal, o que explica os valores propostos. Novas avaliações foram feitas por um perito judicial. Enquanto a Justiça não se pronunciar, não será possível falar em prazo para o início da construção do terminal - que terá 35500 metros quadrados, com dois pavimentos e passarelas de integração às estações de metrô e do BRT -, no qual devem ser investidos cerca de 60 milhões de reais. Serão pelo menos dezoito meses de obras após a liberação dos terrenos. Até lá, os passageiros da capital terão de continuar embarcando na velha rodoviária, localizada no Centro, que não passa por uma reforma há pelo menos vinte anos e não conta com acesso para deficientes físicos.