Contagem também aposta no BRT

16/11/2014 - Estado de Minas

No embalo do Move – o transporte rápido por ônibus de Belo Horizonte –, Contagem, na região metropolitana, também aposta no BRT para tentar reduzir o crescente fluxo de veículos e resgatar a qualidade do sistema. Como parte de um audacioso plano de mobilidade urbana com quatro grandes obras viárias – entre elas, uma trincheira em um dos pontos de maior gargalo no tráfego –, o terceiro maior município de Minas (643.476 habitantes, segundo o IBGE) espera aumentar a capacidade do serviço, trazendo mais conforto, redução do tempo de viagem e incentivando motoristas a deixar seus carros na garagem. O projeto repete a fórmula de pagamento antecipado da tarifa em estações e uso de monitores digitais que informam a previsão de chegada de cada coletivo.

Está prevista a construção de três corredores exclusivos (Norte/Sul, Leste/Oeste e Ressaca), com 42,1 quilômetros de extensão, tendo como principais eixos as avenidas João César de Oliveira e David Sarnoff, na Sede/Eldorado e Cidade Industrial; e Via Expressa, dos bairros Água Branca ao Petrolândia (veja arte). Quatro terminais farão a integração do sistema, distribuindo os ônibus entre linhas troncais, interbairros, circulares e alimentadoras. Ao longo do trajeto, três estações de embarque e desembarque nos moldes das estações de transferência do BRT de BH – porém com maior capacidade – farão integração exclusiva com as linhas do Move metropolitano. A meta, afirma o presidente da Transcon (Autarquia Municipal de Trânsito e Transportes de Contagem), Agostinho da Silveira, é dar agilidade ao tráfego. "O novo modelo de transporte vai desafogar em 50% o trânsito em toda a cidade", promete.

O Estado de Minas teve acesso ao projeto – denominado Contagem Integrada e orçado em R$ 220 milhões. Parte do programa PAC Mobilidade e aprovado pelo Ministério das Cidades, ele depende agora do andamento das obras que abrirão passagem ao BRT em um futuro próximo. Duas das quatro intervenções necessárias – a nova trincheira no entroncamento das avenidas Babita Camargos e General David Sarnoff, na Cidade Industrial, e o viaduto do Bairro Petrolândia, que servirá de acesso ao Terminal Petrolândia – estão em processo de licitação e terão as empresas vencedoras anunciadas até a primeira quinzena de janeiro. As obras devem começar na sequência. As outras duas intervenções necessárias (ambas viadutos, sobre as avenidas das Américas e Teleférico), têm licitação prevista para até junho de 2015.

Dois conjuntos de novas linhas do BRT, de acordo com a Transcon, estão em fase de estudo: um ligando a Sede à Cidade Industrial, por meio da Avenida General David Sarnoff e Avenida João César de Oliveira, e outro ligando o Ressaca, via Avenida Teleférico, ao Jardim Laguna. Soma-se ao projeto a integração das novas estações, adequação dos corredores – com recapeamento e nova sinalização – e novos pontos de ônibus.

PROJETOS EXECUTIVOS

Porém, até que o transporte rápido por ônibus de Contagem saia do papel, o município ainda precisa concluir os projetos executivos que detalham, dentro das exigências técnicas e legais, cada obra a ser executada. Os tipos de ônibus a serem usados também não foram definidos e ainda não há estimativa de redução do tempo médio de viagem na cidade, que conta hoje com 50 linhas de transporte coletivo, 46 delas integradas ao metrô.

Sem informar prazos, a prefeitura argumenta que a execução está dentro do cronograma previamente autorizado pelo governo federal. "Aguardamos a conclusão dos projetos para definir um prazo para o término das obras e efetivação do BRT na cidade", informa o município.

Usuários de ônibus em Contagem depositam esperanças no BRT

Pouco conforto, horários e linhas são as principais queixas de quem usa o coletivo diariamente

Atrasos, poucos ônibus nas linhas e uma espera longa pelo coletivo que levará ao destino desejado. Reclamações como essas são comuns entre moradores de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Quem usa o transporte coletivo pede melhorias, apesar de destacar avanços na frota nos últimos anos. E vê no BRT a expectativa de um serviço, pelo menos, mais confortável.

A maquiadora Renata Soares, de 20 anos, mora no Bairro Três Barras e é atendida pelas linhas 1730 (Estação Diamante/Contagem/Alvorada) e 1740 (Contagem/Estação Diamante), que, segundo ela, passam com frequência. Mas, quando é preciso ir a bairros mais afastados, na região de Nova Contagem, precisa submeter-se a um exercício de paciência na Estação Eldorado. Se perder um ônibus, espera pelo menos uma hora pelo próximo. Ela nunca andou no Move de Belo Horizonte, mas acredita que os articulados sejam bons e seguros.

O ônibus 2581, executivo que vai de Contagem a BH, para ela é uma amostra das vantagens do sistema BRT: "O ar-condicionado é um alívio". Renata acredita que a implantação do transporte rápido por ônibus terá ainda mais benefícios e, por isso, torce para que o projeto vá em frente. "Se o ônibus tem mais conforto, as pessoas abrem mão de andar de carro, o que melhora o fluxo no trânsito. Hoje, não há qualquer vantagem no coletivo: não chega mais rápido, só anda cheio e demora."

O operador de máquinas Jésus Faustino Vieira, de 30, sofre com os horários e os poucos coletivos das linhas 402 e 403 (Novo Progresso/Cidade Industrial). "Não há ônibus para atender a quem precisa estar no trabalho até as 7h. Quem mora na minha região tem que se desdobrar e, normalmente, conta com um familiar para levar ao serviço", diz. Aos sábados, quando inicia o trabalho às 6h30, Jésus caminha 50 minutos do Bairro Ortiz, onde mora, até o Califórnia, na Região Noroeste de BH.

 "Mandei e-mail para a Prefeitura de Contagem pedindo a implantação de pelo menos um micro-ônibus, se o problema for falta de passageiros, só para atender a quem precisa chegar cedo ao trabalho. Mas nunca tive retorno", relata. Nos fins de semana, a situação também é crítica. No domingo, circulam apenas dois ônibus, sendo o último às 18h. "O BRT poderia melhorar e muito a nossa realidade, porque o que temos hoje é horrível."

A dona de casa Marly Dias, de 63, mora no Bairro Buganville II e depende da linha 302B. No caso dela, o atraso é o que mais desagrada. "Seria bom ter um ônibus com ar-condicionado e que passe nos horários corretos. Este quebra muito", reclama.

Comparação

A chefe de cozinha Vera Souza Oliveira, de 40, mora em Ibirité, também na região metropolitana, mas usa os sistemas de transporte de BH e de Contagem. Na Estação Eldorado, onde desembarca do 1630 (Cascata/Estação Eldorado), ela pega o metrô até a Estação Lagoinha, no Centro de BH, e, de lá, o Move até a Pampulha, onde trabalha. Na volta, o tempo economizado nos dois primeiros percursos é todo perdido na espera pelo ônibus para chegar em casa, novamente na Estação Eldorado. "O BRT é muito melhor. Se for implantado mesmo em Contagem, as pessoas estarão bem-servidas", considera.

O aposentado Álvaro Eustáchio, de 78, mora no Centro da cidade e destaca o grande fluxo de coletivos. Para ele, a queda na qualidade do serviço explica-se pelo crescimento do município. "O número de habitantes aumentou muito, mas, em vista do que era, melhorou bastante", afirma. Mas, na opinião dele, podendo melhorar, por que não? "No Centro, não tenho dificuldades, mas quem mora nos bairros sofre."

Enquanto isso, Expresso Amazonas é promessa distante

Próxima grande expansão prevista para o Move de Belo Horizonte, o Expresso Amazonas ainda está em fase de concepção e só deve ter início entre o fim de 2015 e o início de 2016. Segundo a BHTrans, o projeto executivo só virá em uma terceira fase – antes, é necessário um projeto básico. As 29 linhas (a maioria diametrais) que ficaram de fora da primeira fase do BRT de BH ainda não têm previsão de implantação. "Com a última etapa implantada em agosto, os usuários estão se adaptando e estão sendo feitas avaliações de demanda. Há possibilidade de serem criadas linhas de atendimento intermediário e outras semiexpressas", informa a empresa municipal.

Ônibus articulados começam a ser testados em Montes Claros

Município diz que vias estreitas impedem implantação do BRT

Em Montes Claros, no Norte de Minas, começaram este mês os testes com os ônibus articulados, que serão concluídos na próxima semana. Segundo a prefeitura, está sendo feito um estudo de viabilidade, levando em consideração o deslocamento pelas ruas e a adesão dos passageiros. O município alega que as vias estreitas da cidade impedem a implantação do BRT, por isso, estuda recorrer ao sistema articulado para melhorar o serviço.

A ideia é pôr o novo tipo de veículo em funcionamento a partir do ano que vem, em horários de pico. O empresário Henrique Sapori Filho, diretor de uma das concessionárias do transporte coletivo urbano na cidade, ressalta que a vantagem do modelo é que ele permite o transporte de grande número de passageiros em uma única viagem (180 pessoas). "As empresas recebem essa inovação com bons olhos. Mas, para funcionar bem, é preciso investimento na infraestrutura, com a criação de vias exclusivas e a construção de terminais."