BRT do Rio avança mais do que o de BH e ‘dialoga’ com usuário

14/11/2014 - O Tempo - BH

Rio de Janeiro - Belo Horizonte e Rio de Janeiro estão no grupo das cidades no mundo que apostam no BRT como uma das soluções de mobilidade. Ambas receberam recursos federais para a implantação do sistema e, antes da Copa do Mundo, tinham dois grandes corredores em funcionamento. Porém, apesar de semelhanças em qualidades e também em deficiências, como lotação nos horários de pico, as metrópoles apresentam diferenças no modo de operação e de expansão das rotas que interferem no desempenho do serviço.

A reportagem de O TEMPO participou de visita técnica ao BRT do Rio de Janeiro durante o 16º Etranspor, congresso brasileiro sobre mobilidade urbana, realizado de 5 a 7 deste mês e observou que a capital fluminense, que inaugurou seu primeiro corredor em junho de 2012, avançou em pontos que ainda deixam a desejar no modelo mineiro, como a integração tarifária com o transporte metropolitano, o uso de ônibus com maior capacidade e o diálogo em tempo real com usuários por meio de aplicativos e de redes sociais.

As diferenças entre os dois sistemas começam pelo tamanho. Como a população do Rio é quase o triplo da de Belo Horizonte (6,3 milhões contra 2,3 milhões), as duas rotas cariocas em operação, chamadas de Transcarioca e Transoeste, já têm, juntas, extensão quase quatro vezes superior à dos dois corredores do Move, sistema que começou a operar em março deste ano na capital mineira. São 90 km contra 23,1 km. Além da estrutura existente, o Rio já tem projetos e obras para outros dois grandes corredores, o Transolímpica preparado para as Olimpíadas, que serão no Rio em 2016 e o Transbrasil, previsto para 2017. Ambos vão agregar mais 57 km ao sistema. A Transolímpica é feita por meio de parceria Público-Privada, algo inovador.

Enquanto isso, a capital mineira estuda a implantação de um BRT no Anel Rodoviário, ainda sem data para sair do papel, e pretende criar o Expresso Amazonas, um BRT light na avenida de mesmo nome, como a própria Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) denominou. Essa versão simplificada não deve ter desapropriações nem faixas segregadas fisicamente, contra uma das premissas do BRT.

Diferenciais. O Move também só usa, atualmente, ônibus padrons e articulados de até 19 m, enquanto o Rio já aposta em modelos maiores, de 21 m e 23 m, e também nos biarticulados de 25 m. A mudança no padrão começou com a experiência do corredor Transoeste, que já não comporta mais articulados com menos de 20 m. A recomendação é que as empresas associadas invistam em veículos maiores, afirmou o porta-voz do Consórcio BRT do Rio, Affonso Nunes.

A linha Transcarioca, a mais nova do Rio, chama a atenção também por percorrer ruas estreitas em bairros populosos, como Ramos e Olaria, onde o BRT tem passagem livre em pista separada por blocos de concreto em cada sentido.

Internautas do Rio são convidados para bate-papo sobre o sistema

Uma das premissas do BRT é a divulgação de informação em tempo real ao usuário. Nas estações de Belo Horizonte, painéis informativos avisam o tempo que falta para a chegada dos veículos. Os ônibus têm monitores que orientam sobre as próximas paradas. No entanto, o Move ainda não está presente em redes sociais e aplicativos de smartphones.

No Rio de Janeiro, o sistema tem 138 mil seguidores no Facebook e 8.000 no Twitter, e o aplicativo Meu BRT orienta sobre atraso ou mudança em horários. Quem comenta as informações tem a chance de receber, logo após a publicação, resposta do Consórcio BRT, que administra o serviço. Buscamos convidar os internautas que mais interagem para um bate-papo, em que apresentamos o sistema. Como há quem fale que metrô que é bom, buscamos mostrar que o BRT não concorre com ele, mas complementa, afirmou o porta-voz do consórcio, Affonso Nunes.

A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte informou que oferece informações no site da autarquia, no Jornal do Ônibus (afixado dentro dos coletivos) e por meio de folhetos e que pretende futuramente ampliar a comunicação também para redes sociais e aplicativos.

Análises

A tendência hoje é prezar pela capacidade, e não pela quantidade de ônibus. Se está havendo uma demanda maior de usuários do sistema BRT, não adianta só ter mais veículos, o que vai gerar comboio. O que Belo Horizonte precisa é começar a buscar, como o Rio de Janeiro fez, investir em ônibus maiores. (Idam Stival - Especialista em transporte e representante de engenharia de vendas da Volvo)

Por que Curitiba (PR) fez um sistema há 35 anos, quando nenhuma cidade havia feito ainda? Porque as que tentaram fazer não adotaram os sistemas completos e integrais, que dão a qualidade do sistema BRT. Não podemos fazer (a implantação do sistema) pelo meio, e não pode ser diferente em Belo Horizonte. Há conceitos que são básicos, uma literatura técnica global que diz o que dá velocidade. (Lélis Teixeira - Presidente executivo da Federação das empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro)