BRT de BH completa um mês com boa aceitação, mas ainda precisa melhorar

08/04/2014 - Estado de Minas / Hoje em Dia-BH

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Há um mês, o terno diariamente usado em audiências, reuniões e encontros formais já não é mais levado no encosto do banco do passageiro do carro particular. Dobrado, o traje social é transportado em uma mochila discreta, que o promotor de Justiça Leonardo Barbabela, coordenador do Centro de Apoio às Promotorias de Defesa do Patrimônio Público (Caopp), carrega nas costas. Desde a inauguração do Move, que hoje comemora 30 dias, Barbabela passou a deixar o automóvel em casa, no Bairro Renascença (Região Nordeste), e seguir para o trabalho usando o novo sistema de transporte de Belo Horizonte. Depois de anos usando o carro para trabalhar, ele compara os dois modos de transporte: "Minha avaliação sobre o BRT é extremamente positiva". A opinião do promotor é comum entre passageiros que migraram dos ônibus convencionais para o novo sistema de transporte da capital. Entretanto, não são apenas elogios que marcam o primeiro mês de operação do Move. Todos os usuários entrevistados ontem pelo Estado de Minas fazem considerações importantes para a melhoria do modal, que teve inauguração conturbada em 8 de março, marcada por falhas e falta de informação.

No caso do promotor, a análise positiva se justifica pela economia com combustível, ganho em conforto e tempo. "Não troco o BRT pelo percurso de carro, mesmo se estivesse com motorista particular, que eventualmente uso para reuniões fora do MP. O trajeto de carro é muito caro, estressante e demorado", diz o promotor, que historicamente atua na vigilância da mobilidade na capital. Para completar o percurso até a sede do MP, no Bairro Santo Agostinho, Barbabela pega um táxi na Avenida Paraná, último ponto do BRT na Área Central. "Mesmo com esse gasto a mais, a despesa com transporte é R$ 200 menor. De carro, tinha um custo de R$ 540 mensal. Hoje, não passa de R$ 340", explica. Ele ainda faz outra comparação. "O tempo da ida para o trabalho caiu de 40 para 25 minutos. E, na volta, de uma hora e 10 minutos para 30 minutos, em média", afirma.

O promotor, no entanto, defende o acréscimo de ônibus ao quadro de viagens, para que os intervalos entre uma saída e outra sejam reduzidos. "O tempo entre as viagens pode ser menor. E outros corredores da cidade e também a região metropolitana devem ser atendidos pelo BRT."

A leitura positiva, com ressalvas, que o promotor faz dos 30 dias de operação do Move é comum entre passageiros do novo sistema. A análise está relacionada com o conforto dos ônibus articulados, automáticos e com ar condicionado das três linhas que saem da estação São Gabriel em direção ao Centro e à Região Hospitalar. Mas também há queixas a respeito de superlotação e desrespeito às prioridades dentro dos coletivos.

Os ônibus cheios vêm sendo observados mesmo fora do horário de pico, de acordo com o aposentado José Martins Laia, de 66 anos. "Já andei de BRT quatro vezes e em nenhuma delas consegui ir sentado, mesmo tendo prioridade nos assentos. Os ônibus estão sempre cheios. Além disso, falta fiscalização para que haja respeito com quem tem preferência", acredita José Martins, que ontem fez o percurso entre o Centro e a estação Minas Shopping em pé. Ele acredita que a superlotação seja resultado do baixo número de veículos. "Se houvesse mais ônibus nas linhas, poderíamos ter mais conforto. Não que o sistema seja ruim. Pelo contrário. Melhorou muito, pois os coletivos são mais confortáveis e modernos que os normais", conta o aposentado.

A comerciante Geralda Costa Silva, de 36, moradora do Bairro Jardim Belmonte, na Região Nordeste de Belo Horizonte, avalia que o novo sistema de transporte coletivo facilitou sua vida. Semanalmente, ela vai ao Centro para comprar suprimentos para sua sorveteria e pega o Move na Estação São Gabriel. Com mais sorte, ela diz que na maior parte das vezes consegue fazer o trajeto sentada. "O 808 (Estação São Gabriel/Paulo VI), linha que eu pegava antes, estava sempre cheio", afirma.

O conforto dos novos veículos articulados também facilitou a vida do motorista Ismael Valério Gomes, que há 18 anos trabalha em linhas de ônibus convencionais. Há um mês no BRT ele enumera os ganhos: "Os veículos são mais ágeis, têm mais tecnologia e são melhores de dirigir. A gente fica menos cansado ao fim do expediente", conta.

A estudante Samanta Paula de Oliveira Silva, de 17 anos, usa diariamente o BRT desde a inauguração. Ela também mora na Região Nordeste da capital, no Bairro Nazaré. De segunda à sexta-feira, pega a linha 83D (Estação São Gabriel/Centro) para chegar à Escola Estadual Olegário Maciel, no Centro, onde cursa o 3º ano do Ensino Médio. "Melhorou muito o meu percurso. Minha escola tem tolerância de 10 minutos para a entrada depois do horário e antes eu sempre chegava atrasada", conta.

Apesar disso, a jovem diz que é preciso resolver alguns problemas no sistema, como a falta de estrutura de algumas estações e de informação para os passageiros. "Outro dia uma mulher ficou gritando com o motorista porque ele não passou na Rua São Paulo. Ela não conhecia o novo trajeto. E em alguns veículos o ar-condicionado fica pingando água na gente ", reclama. Samanta também lembrou do possível aumento das passagens que, segundo ela, serão alguns centavos a mais que pesarão no orçamento.

PONTOS POSITIVOS

Rapidez e conforto

"O novo sistema é mais rápido e oferece maior comodidade, por serem veículos novos, automáticos e com ar-condicionado. Os outros ônibus são muito barulhentos" - Cibele Rodrigues, de 38 anos, contabilista

Fim do estresse para estacionar

"Normalmente uso o carro e percebi que o Move é uma boa alternativa para o dilema dos estacionamentos, com vagas cada vez mais raras e caras – algumas custando R$ 30 a diária. Está na hora de conduzir as pessoas de uma forma mais respeitável. Os outros coletivos são desumanos" - Graça Rodrigues, de 63, terapeuta holística

Acessibilidade

"Uso o transporte público todos os dias para ir à fisioterapia no Bairro Gameleira. Antes, pegava só os ônibus convencionais. Agora, divido o percurso com o BRT, que é mais confortável para cadeirantes." - Carlos Antônio F. de Souza, 51, cadeirante

PONTOS NEGATIVOS

Pouca praticidade

"É um sistema pouco prático. Vou ter que ir a uma cabine em outra rua para comprar os bilhetes. Além disso, no trajeto em que pegava apenas um ônibus, agora terei que pegar dois. Perde-se tempo com a baldeação" - Fábio Ferreira, de 34, engenheiro de produção

Falta de informação

"Ainda tem muita gente sem saber como embarcar, onde descer e quais são as linhas. Muitos andam nas pistas dos novos ônibus, que, inclusive, passam por aqui (na Avenida Santos Dumont) em alta velocidade" - Célio Gonçalves, de 48, segurança

Limitação de percurso

"As linhas inauguradas me deixam na metade do caminho. Trabalho no Sion e moro em Venda Nova. Mal posso esperar pela inauguração dos ônibus Move que circularão pela Avenida Antônio Carlos. Passo sete horas por dia, em média, fazendo os trajetos entre casa, trabalho, faculdade e a escolinha do meu filho" - Érica Souza, de 23, professora

Hoje em Dia - BH

Apesar da agilidade, Move faz um mês com desafios

O BRT/Move completa nesta terça-feira (8) um mês de funcionamento no transporte público de Belo Horizonte. Em meio a obras, o sistema garante mais agilidade e conforto para os passageiros. Porém, o sistema está longe de ser ideal, esbarrando em diversas falhas, como a falta de informação e segurança.

A BHTrans não informa quantos usuários foram transportados desde 8 de março, nem quando serão os próximos passos de implantação. Nenhum diretor da empresa foi colocado à disposição para prestar informações. Segundo a assessoria de imprensa, os dados serão repassados durante uma entrevista coletiva nesta semana.

NA PISTA

Uma série de problemas persiste, principalmente na Estação São Gabriel. O local ainda está em obras e o teto está inacabado. Não há assentos para quem aguarda os ônibus, as escadas rolantes estão desativadas e faltam até extintores de incêndio.

Outro problema é a pouca informação para o embarque, sendo necessário, a todo momento, o alerta dos ajudantes da BHTrans. Os painéis informando os horários também não existem. E alguns dos equipamentos nas estações de transferência das avenida Cristiano Machado e Santos Dumont apresentavam problemas.

A analista de sistema Natália Campos de Oliveira, de 23 anos, adotou o BRT/Move e elogia o sistema pela agilidade. Porém, a nutricionista Patrícia de Almeida, de 32 anos, critica a falta de informações. "Está mais rápido e confortável, mas o intervalo entre os ônibus deveria ser menor", disse.

O coordenador do departamento de trânsito e transporte da Fumec, Márcio Aguiar, criticou a falta de informação e disse que um mês é tempo suficiente para corrigir esse tipo de problema. "As obras estão atrasadas. A falta de informação deixa o usuário confuso. Além disso, os motoristas estão deixando um vão grande entre o veículo e as plataformas, criando risco de acidentes", alertou.

Desde 8 de março, três linhas operam com 22 ônibus articulados. Segundo o diretor de Transporte Público da BHTrans, Daniel Marx Couto, no anúncio do aumento da tarifa, na sexta-feira, novas 15 linhas, sendo três troncais, entrarão em operação na avenida Cristiano Machado a partir de 15 de abril.

A implantação total do sistema está prevista para até fim de maio, mas as primeiras linhas na avenida Antônio Carlos começam a operar ainda em abril.