BHTrans anuncia mais 135 quilômetros de pistas exclusivas para ônibus com radares

08/11/2013 - Estado de Minas

BHTrans anuncia mais 135 quilômetros de pistas exclusivas para ônibus com radare
Para dar mais fluidez ao tráfego em corredores, a BHTrans vai implantar 135 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus na capital, que conta hoje com apenas 15 quilômetros de pistas exclusivas e a meta é chegar a 150. A princípio, serão implantados 100 quilômetros de faixas exclusivas. A empresa não revelou quais vias serão incluídas no projeto, mas explicou que o sistema será criado em avenidas e ruas com intenso tráfego de coletivos. O anúncio foi feito ontem no lançamento, pela Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU), de campanha para ampliar velocidade de coletivos.

Além da Avenida Nossa Senhora do Carmo, a capital dispõe de dois corredores com pista exclusivas: as avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado. Juntas, elas somam 13,4 quilômetros e até o início do BRT o número vai aumentar (veja quadro). Em nota, a BHTrans informou que está em fase final edital para criar mais 100 quilômetros de faixas. A previsão é de que 30 corredores estejam no pacote, como a Avenida Assis Chateaubriand e a Nossa Senhora do Carmo, além das ruas Niquelina e Padre Eustáquio.

No mês passado foi publicado edital para contratação de novos radares em BH, sendo que 72 pontos serão fiscalizados em rodízio para detectar avanço de faixa exclusiva. Eles serão distribuídos nas ruas Oiapoque, Curitiba, Rio de Janeiro e Espírito Santo e nas avenidas Pedro II, Augusto de Lima, Alfredo Balena e do Contorno, o que significa que essas vias terão faixas para ônibus. A BHTrans não informou se os locais dos radares estão no grupo dos 100 quilômetros de pistas ou se referem a outro pacote.

GARGALOS

O incentivo à implantação de 4 mil quilômetros de faixas exclusivas para ônibus em um ano em todo o país foi tema de campanha lançada ontem, em Brasília, pela NTU para aumentar a velocidade dos coletivos e minimizar o gargalo criado pela expansão da frota de automóveis. A entidade informou que perdeu mais de 30% dos passageiros nos últimos 18 anos, passando de 60 milhões para 40 milhões o número de pessoas transportadas por dia no país.

Batizada de Campanha de Qualificação das Redes Convencionais de Transporte Público Urbano, a iniciativa da NTU, que tem como parceiro o Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT), traz um manual com experiências de sucesso em Goiânia, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo o documento, os dois principais pilares da priorização são o aumento da velocidade dos ônibus e o menor tempo dos usuários no veículo. As orientações mostram que o sistema pode ser feito em curto prazo (em até seis meses), custa pouco (entre R$ 100 mil e R$ 500 mil por quilômetro) e não demanda desapropriações.

PISTA LIVRE

Para o presidente da NTU, Otávio Cunha, o sistema é considerado emergencial e deve funcionar apoiando modelos mais complexos, como o transporte rápido por ônibus (BRT). "Todo o itinerário do transporte coletivo deve ser priorizado para que o desempenho do sistema seja satisfatório. E netas faixas podemos estabelecer horários, deixando pista livre para os ônibus apenas no horário de pico", diz Cunha.

Segundo o coordenador do MDT, Nazareno Afonso, dados de 2011 mostram que só 0,12% do sistema brasileiro contava com pistas para ônibus, totalizando 412 quilômetros. Disse que as intervenções devem contemplar a estrutura de abrigos e sistema de informação ao usuário. "O estacionamento na via pública tem de ser proibido onde transitam ônibus. Os carros precisam perder privilégios. Não temos onde colocar a frota de veículos", pondera.

NOVOS CORREDORES

Faixas exclusivas em BH

Avenida Nossa Senhora do Carmo: 900 metros

Avenida Antônio Carlos: Ampliação de 7,5 para 14,7 quilômetros com a conclusão do BRT (de Venda Nova ao Complexo da Lagoinha)

Avenida Cristiano Machado: Ampliação de 5,9 para 7,1 quilômetros com a conclusão do BRT (do São Gabriel ao Túnel da Lagoinha)

Previsão de mais 100 quilômetros, a custo de R$ 100 milhões, em 30 corredores, como ruas Niquelina e Padre Eustáquio e avenidas Nossa Senhora do Carmo e Assis Chateaubriand.

Radares em rodízio

72 novos pontos de fiscalização eletrônica em sistema de rodízio em vias como ruas Oiapoque, Curitiba, Rio de Janeiro e Espírito Santo e avenidas Pedro II, Augusto de Lima, Alfredo Balena e do Contorno. Previsão de implantação em fevereiro.

Pistas exclusivas dividem opiniões na capital

Anúncio de que a BHTrans pretende criar faixas exclusivas para ônibus em corredores como a Avenida Pedro II acirra disputa entre os motoristas particulares e de coletivos

Com a distribuição de 150 quilômetros de pistas para ônibus por toda a cidade, a BHTrans pretende adotar a fiscalização como arma para evitar que os carros desrespeitem as regras e garantir a livre circulação do transporte coletivo. A avenida que terá mais pontos vigiados é a Pedro II, com 48 pontos, em sistema de rodízio, o que indica que a pista própria de ônibus será extensa. Nos arredores dos cruzamentos com as ruas Peçanha, Mariana e Jaguarão, entre os bairros Bonfim e Carlos Prates (Região Noroeste), onde os olhos eletrônicos serão instalados, o conflito entre carros e coletivos ocorre diariamente. Veículos de passeio transitam pelo lado direito da pista, onde a sinalização que indica a preferência para ônibus está apagada na maioria dos trechos. Os coletivos, por sua vez, constantemente ocupam a faixa da esquerda. O resultado é um congestionamento que começa na entrada do Viaduto A do Complexo da Lagoinha e se estende ao longo de toda a avenida.

Ao descobrir que a Pedro II vai ter espaço exclusivo para ônibus, com fiscalização eletrônica, o vendedor Ricardo Soares, de 55 anos, se espanta: "Não acredito que eles vão fazer isso na Pedro II. Não tem jeito, não tem espaço. Onde vamos circular?", questiona. Já os motoristas de ônibus Roney de Oliveira, de 43, e Luan Carlos, de 23, não têm dúvidas de que vai melhorar. "Os ônibus não podem ficar parados como ficamos normalmente", afirma Roney. "Vai melhorar demais, temos dificuldade de andar por aqui diariamente", acrescenta Luan.

Inicialmente, o corredor formado pelas avenidas Pedro II e Carlos Luz era uma das promessas da Prefeitura de BH para receber o transporte rápido por ônibus (BRT, da sigla em inglês), mas o projeto foi abandonado sob justificativa de dificuldades encontradas nas desapropriações. "Antes a avenida seria alargada e teria mais espaço, tanto para carros quanto para ônibus. Agora nós vamos perder uma faixa. Será que vai criar um gargalo?", questiona, sem esconder a ironia, o engenheiro químico Josimar Felippe Antunes, de 36.

ESTRANGULAMENTO

Entre os corredores que vão receber faixas exclusivas como as que estão previstas para a Pedro II está a Rua Niquelina, importante corredor do Bairro Santa Efigênia (Região Leste), que faz ligação com a Avenida do Contorno. "Você tem que ver esta rua entre as 6h30 e as 8h. Se não fizerem isso, não andamos", diz o motorista de ônibus Dimas Rodrigues, de 61, referindo-se ao congestionamento que atinge a Niquelina entre as avenidas do Contorno e Mem de Sá no horário de pico. "De fato os ônibus precisam. Mas aqui não tem espaço. Vai estrangular totalmente para os carros", diz o taxista Maurício Machezini, de 53.

Também contemplada no projeto para receber faixa exclusiva, a Avenida Assis Chateaubriand, no Bairro Floresta, Leste da capital, tem grande demanda de estacionamento entre as avenidas Fracisco Sales e do Contorno. Apesar de a BHTrans não confirmar se vagas serão extintas para ceder espaço aos ônibus, fica difícil imaginar como o transporte coletivo poderá ter exclusividade se isso não ocorrer. A professora Sandra Maria Soares, de 54, estava com o carro parado no trecho ontem, mas não se importa se a área sumir. "Tudo o que favorecer o ônibus é válido, porque a mobilidade em Belo Horizonte está muito prejudicada", diz ela.

Na Avenida Nossa Senhora do Carmo, onde as faixas exclusivas já funcionam para os coletivos em 900 metros, entre as avenidas do Contorno e Uruguai, a ampliação do percurso também está prevista no pacote anunciado pela BHTrans, mas atualmente há dificuldades no trecho. Uma delas está na saída da trincheira, pois os coletivos precisam vencer o engarrafamento nos horários de pico para chegar ao espaço reservado a eles. Quando passam da Avenida Uruguai, ficam reféns do engarrafamento, que muitas vezes ses se arrasta até o BH Shopping.

Para o coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, a implantação das faixas exclusivas seria viável se a cidade pudesse oferecer à população uma alternativa de transporte de alta capacidade, como o metrô. "Sem essa possibilidade, os projetos forçam um modelo que tem limite de capacidade e por isso a transferência de pessoas vai ser muito pequena", prevê o professor. Ele também chama a atenção para o fato de que o sistema tem desempenho melhorado onde há pistas exclusivas, mas os ônibus continuarão enfrentando trânsito nos demais lugares