Sistema de transporte coletivo será reestruturado em Juiz de Fora

25/09/2013 - G1

'Sistema precisa ser integrado, barato e rápido', diz secretário.
Pedestres e motoristas reclamam de congestionamentos e sinalização.

Nathalie Guimarães

Do G1 Zona da Mata

Motoristas reclamam de congestionamentos
(Foto: Nathalie Guimarães/G1)
A Prefeitura de Juiz de Fora anunciou na tarde desta terça-feira (24), o projeto "JF+Mobilidade", que prevê ações e estratégias para a reestruturação do transporte coletivo no município, como a implantação de faixas exclusivas para coletivos, instalação de GPS nos ônibus, sistema de integração temporal no Bairro Distrito Industrial e a afixação de mapas mais completos com informações sobre as linhas nos pontos de ônibus.
Segundo o prefeito Bruno Siqueira, nos últimos dez anos, a frota de carros em Juiz de Fora mais que duplicou e, diante disso, a mobilidade urbana deve ser baseada na reestruturação do transporte coletivo. Ele frisou que a prioridade é o transporte coletivo urbano e que outras obras irão beneficiar os demais usuários de veículos particulares, como mergulhão e pontes. O prefeito ainda reforçou o compromisso de criar o bilhete único no próximo ano.
Em outubro, a integração temporal de linhas e ônibus no Bairro Distrito Industrial começará a funcionar em caráter experimental. Para isso, serão criadas as linhas Circular BR-040 e Circular Distrito Industrial e os usuários poderão utilizar os cartões normalmente para entrar no coletivo. Ao passar pela catraca será registrado o horário em que o cartão foi utilizado pela primeira vez e o passageiro terá uma hora e 30 minutos para utilizar outro ônibus nas 29 linhas permitidas na Zona Norte sem debitar uma nova passagem. Para o próximo ano, está previsto o cartão "Passe Fácil".
Também foi anunciada a implantação de equipamentos de Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS), que, entre outros, prevê a instalação de GPS em todos os ônibus do município no primeiro semestre de 2014. O objetivo é ampliar o controle e a fiscalização do transporte coletivo. Posteriormente, o sistema irá garantir ao usuário acesso às informações em tempo real.
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Já em novembro, a Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra) implantará faixas exclusivas para ônibus em duas vias: na Avenida Brasil, no sentido Centro/Bairro, entre a Rua Américo Lobo, no Bairro Manoel Honório, e o Viaduto Ramirez González, no Bairro Cerâmica; e em trechos do Bairro Mariano Procópio, como a Rua Coronel Vidal, passando pela Rua Henrique Burnier, Avenida Brasil até a Rua Ewbank da Câmara. O intuito é aumentar a velocidade operacional e priorizar o transporte coletivo.
Na ocasião, também foi assinado um contrato com a empresa vencedora da licitação que desenvolverá estudos sobre o transporte coletivo urbano a curto e a longo prazo. Entre as metodologias do trabalho, serão realizadas entrevistas com os usuários, identificando os locais de origem e de destino, além da contagem de passageiros que sobem ou descem em cada ponto de ônibus. A longo prazo, o trabalho irá apontar as tendências do transporte público no município. "A partir deste trabalho, vamos traçar o perfil do usuário do transporte em Juiz de Fora, desenhando uma nova rede", explicou o prefeito.
Reclamações e sugestões
O G1 ouviu a população para saber quais são os maiores problemas do trânsito em Juiz de Fora. Motoristas e pedestres reclamaram da falta de sincronismo dos semáforos, de fiscalização e sinalização, da imperícia de motoristas e pedestres, dos congestionamentos, principalmente nos horários de pico, da passagem de trens no Centro da cidade, do curto tempo reservado para a travessia de pedestres, da ausência de vias alternativas e de obras viárias que solucionem o problema.
Todos os dias no fim da tarde, a analista de sistemas Aline Perantoni sai cerca de 15 minutos mais cedo do trabalho na Avenida Barão do Rio Branco, na altura da Avenida Itamar Franco, para conseguir chegar a tempo para pegar a filha dela na escola, no Bairro Morro da Glória. Quando ela sai às 17h, gasta cerca de 30 minutos da Avenida Itamar Franco até o colégio. Em horários que o trânsito apresenta fluxo normal, o trajeto poderia ser feito em oito minutos. Para Aline, considerando o aumento da frota de veículos, o trânsito da cidade está caminhando para um colapso. "Depois das 17h, com o horário de pico, a Avenida Itamar Franco e a Rua Santo Antônio ficam cheias. Quando chove, então, parece que as pessoas trocam a sombrinha pelo carro", destacou.

No horário de pico, formam-se longas filas de
automóveis (Foto: Nathalie Guimarães/G1)
A falta de sincronia entre os semáforos, escolas sem local apropriado para embarque e desembarque de alunos em ruas movimentadas e a imperícia dos motoristas de carros e motos que param em locais que impactam o trânsito foram apontados pela pedagoga Lilyan Gatto como elementos que dificultam o trânsito. Ela sugeriu a realização de campanhas de educação no trânsito, adequação da sincronia entre os semáforos e criação de mais estacionamentos para minimizar os problemas.
O geógrafo João Paulo Araújo acredita que o problema da mobilidade urbana é, em parte, resultado do desenvolvimento desordenado da cidade. "Isso deve ser tratado juntamente com a comunidade acadêmica, social e política para que os resultados do planejamento estratégico urbano atendam aos anseios da sociedade", enfatizou.
Para ele, o fato de o trem atravessar o Centro da cidade é um incômodo, já que cria retenções em algumas ruas. No entanto, ele sugeriu que os trilhos, assim como as bicicletas, também podem ser uma solução para gerar mais fluidez no trânsito. "Muitas cidades menores, no mundo todo, foram bem sucedidas ao optarem pelo uso do trem urbano e do bonde. Outra solução privilegia o uso de bicicletas, mas ainda é preciso criar ciclovias seguras", explicou.
O aumento da frota de carros e motocicletas na cidade é o motivo do grande transtorno no trânsito de Juiz de Fora, na opinião do aposentado Sebastião Felix. "Deveriam criar mais vias alternativas. Muitas obras foram prometidas e não saíram do papel", cobrou. Já o aposentado Waldemir Azevedo reclamou do curto tempo para atravessar o semáforo em alguns pontos da cidade. "Quem é jovem aguenta correr, mas quem é mais velho não", lamentou.
Revisão do tempo no semáforo
O especialista em Mobilidade Urbana, José Luiz Brito Bastos, informou que, em alguns pontos, o tempo de travessia estipulado pelos semáforos é suficiente. Em outras vias, porém, como na Avenida Getúlio Vargas, ele afirma que o tempo de 12 segundos não é apropriado. "Para beneficiar o trânsito de automóveis, o tempo do pedestre é reduzido para não causar congestionamentos", esclareceu.
Ele indicou a revisão dos tempos semafóricos, principalmente quando a travessia é feita em mais de um estágio, ou seja, quando o pedestre atravessa uma via e depois tem que cruzar outra em seguida. "Quando ele chega no meio da segunda faixa, o sinal fecha. Às vezes é preciso esperar um ciclo inteiro para atravessar", afirmou. Para José Luiz, quando o tempo de espera chega ao limite, as pessoas cansam e se arriscam.
Com relação à fiscalização, o especialista definiu como um sério problema em Juiz de Fora. Segundo ele, os semáforos e a boa vontade das pessoas são que conduzem o trânsito nas vias, o que provoca as infrações de trânsito na cidade. "Antes havia uma companhia de Polícia Militar de Trânsito, que era bastante atuante. Atualmente o número de agentes de trânsito é insuficiente em virtude do número de veículos e da população", lembrou.
Como uma solução para os congestionamentos, o especialista reforçou a necessidade de renovar o sistema de transporte coletivo para atender o usuário com segurança e qualidade, visando a reduzir o número de automóveis nas vias. Também defende a implantação de GPS nos ônibus para ampliar o controle da Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra).
Pontes serão concluídas
Com relação às obras viárias no município, o secretário de Transportes e Trânsito informou que estão em andamento a construção da ponte do Tupynambás e da ponte dos Poderes, que ligará a Avenida Brasil à Avenida Garibaldi Campinhos, no Bairro Vitorino Braga. Os trabalhos devem ser finalizadas no fim deste ano. A obra do mergulhão da Avenida Francisco Bernardino deve ter início ainda neste ano, com término previsto para 2014. "Conseguimos a liberação de mais uma parcela da verba junto ao Dnit para o empreendimento", disse.

Faixa de pedestres na Avenida Itamar Franco com a
Avenida Rio Branco está apagada
(Foto: Nathalie Guimarães/G1)
Como proposta de criação e reaproveitamento de vias como rotas alternativas, ele sugere que a Avenida Brasil possa ser mais bem aproveitada e que existem projetos nesse sentido. Ele disse também que recentemente a Settra realizou a reprogramação dos tempos dos semáforos na Avenida Getúlio Vargas, no Centro.
O secretário afirmou ainda que a sinalização horizontal está sendo reposta em cruzamentos da área central. "Vamos tentar deslocar alguns eixos de transporte e tentar aumentar a fluidez com medidas de reprogramação do semáforo", afirmou. Ele acrescentou como medidas a serem tomadas, principalmente entre a Rua Halfeld e a Praça Antônio Carlos. A velocidade média, que anteriormente era de 8,8 km/h, aumentou para 10,8 km/h nos horários de pico.
Contorno Ferroviário
A MRS Logística informou que a empresa desenvolveu um projeto técnico de criação de um contorno ferroviário na cidade de Juiz de Fora, que propõe a retirada da linha férrea do Centro da cidade. Segundo informações da MRS, o projeto foi doado à Prefeitura de Juiz de Fora, juntamente com um aporte de R$ 2,4 milhões, para auxiliar na captação de recursos para a efetivação do empreendimento. Segundo o secretário de Transportes, a Prefeitura está se empenhando na busca de recursos para a implantação do projeto.

Pedestres não obedecem a sinalização nas
passagens de nível (Foto: Nathalie Guimarães/G1)
A empresa informou ainda que o trem demora 4 minutos e 30 segundos em cada passagem de nível e, que, em caso de parada, é necessário realizar uma inspeção geral antes de prosseguir, principalmente para averiguar se há pedestres passando por entre os vagões. De acordo com a MRS, o principal motivo das paradas é a imprudência de pedestres e motoristas que não respeitam a sinalização nas passagens de nível. No total, há sete passagens deste tipo na região central de Juiz de Fora. A MRS também disse que realiza campanhas educativas frequentemente, como blitzen educativas nas passagens de nível.